Startups: Caminhos para a Ambidestria Organizacional

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Não é de hoje que a inovação é desejada em mercados e na economia. No início do século XX com Joseph Schumpeter o tema inovação passou a ser amplamente debatido, e com o passar dos anos, seu trabalho foi amadurecendo através de novas teorias do crescimento ligadas à inovação, desenvolvidas pelos pesquisadores que o sucederam. Hoje, um novo tema vem tomando as estratégias de inovação nas empresas, a Ambidestria Organizacional!

O mesmo acontece com o tema startups, um jeito usado para se criar um novo negócio inovador desde a década de 70, e que nos últimos anos se tornou uma buzzword, porque, afinal, se você não tem uma startup buscando resolver um problema de mercado que empresas consolidadas ainda não resolvem, certamente usa os serviços de uma startup num aplicativo no seu celular, e mais recentemente pode ainda investir em uma startup no Brasil, com uma segurança jurídica maior, pois a Lei Complementar 182/2021 – o Marco Legal das Startups e do Empreendedorismo Inovador – foi publicada no Diário Oficial da União no último dia 2 de Junho de 2021.

Por outro lado, empresas maduras e consolidadas no mercado buscam inovar à sua cultura e maneira, com uma velocidade bem menor que uma startup, diga-se de passagem, mas o fazem. E onde os caminhos destes dois tipos distintos de organização empresarial se cruzam, ou poderiam se cruzar? Como é possível desenvolver a Ambidestria Organizacional?

Para responder essa pergunta é necessário antes “emprestar” para este artigo um termo da ecologia, o ramo da biologia que estuda os vínculos dos seres vivos no âmbito do seu habitat. Ecossistema é uma palavra derivada de outras duas já existentes, construída a partir do prefixo eco-, visto no grego como oiko-, indicando um lar ou mais especificamente um habitat nesse contexto de aplicação e, somado na sequência, em referência ao latim systēma, da raiz grega sýstēma, que pode ser descrito como o desempenho a partir da articulação de um conjunto de peças, assim como as partes que compõem um quebra-cabeça.

Dito isso, e se atentando ao tema inovação para não sermos amplos demais, temos em nosso tecido social moderno, ou seja, os indivíduos, a coletividades e papéis, que estão ligados por uma ou mais relações sociais profundas, a capacidade e oportunidade de exploração comercial da economia e de mercados por empresas privadas, reguladas por organizações públicas e apoiadas por tantos outros tipos e números de organizações.

Neste contexto, temos o que podemos chamar de Ecossistema de Inovação, um conjunto de organizações maduras, com suas competências de pesquisa, em assumir riscos e de inovar, um “guarda-chuva” maior; e o Ecossistema de Empreendedorismo Inovador, um conjunto de organizações de base, incluído empresas de capital de risco – os investidores – apoiando a criação de novos negócios inovadores com potencial de escala, o centro vital deste Ecossistema, o que chamamos de startups. Um “guarda-chuva” menor, porém, muito mais dinâmico e com múltiplas formas de combinação e criação de valor.

Fonte: Software Startup Ecosystems Evolution: A Maturity Model. Daniel Cukier, USP

Convivendo como água e óleo, ambos os Ecossistemas não se conversavam tanto, o que começou a mudar após o surgimento das então startups, Airbnb e Uber, que inicialmente através da conectividade e apoio do Ecossistema de Empreendedorismo Inovador americano, incluído o impulsionamento pelo capital de risco, conseguiram criar um novo mercado e uma nova rede de valor, deslocando serviços e empresas líderes de mercado em hotelaria no caso do Airbnb, e também causando muita discussão em âmbito governamental no caso do Uber, pois em uma grande parte dos países este tipo de serviço era prestado – ou ferozmente protegidos – pelo Estado.

A partir destes dois cases de sucesso, empresas maduras e consolidadas no mercado se moveram para não deixar a inovação acontecer nos mercados que atuam, sem a participação delas. É neste contexto que o desenvolvimento da Ambidestria Organizacional torna-se importante para este tipo de organização empresarial, pois, balanceando o foco na eficiência operacional do negócio principal da empresa, simultaneamente em que ela olha e se atualiza para o futuro, ela mantém a sobrevivência, competitividade e perenidade no mercado.

A Ambidestria Organizacional é um desafio cultural e de gestão bastante grande, mas inevitável àquelas empresas que não desejam desaparecer do mercado nos anos que se seguirão à suas operações. Sendo assim, porque não aliar a fome com a vontade de comer? Digo, porque não oferecer os já clientes a algumas startups, que precisam deles para validarem seus modelos de negócio, sobreviverem e crescerem, ao mesmo tempo que a empresa madura possa internalizar competências ainda inexistentes em sua estrutura?

Existem algumas formalizações para se aproveitar essa sinergia, que não é foco neste artigo. Aqui vamos nos ater ao básico: toda empresa gera fluxo de caixa ao seu negócio satisfazendo clientes e mercados já existentes, utilizando para isso ativos, entre eles, o capital intelectual, para gerar o valor entregue a estes clientes. Este é o cenário habitual de qualquer empresa, o core business, e como mostrado na figura abaixo, também chamado de Horizonte de Crescimento 1, ou simplesmente, H1.

Fonte: Adaptação Inventta de The Alchemy of Growth: Practical Insights for Building the Enduring. Merhdad Baghai, Stephen Coley, and David White, Basic Books.

Os desafios no contexto do desenvolvimento da Ambidestria Organizacional em uma empresa madura começam quando saímos de H1, e pensando nos caminhos que ela pode seguir para desenvolvê-la está a somatória de forças com uma startup, pois é o desafio desejado por ambas os Horizontes de Crescimento 2 e 3, ou H2 e H3, que diferentemente do que possa ser interpretado olhando a figura acima, não há necessariamente distância temporal para trazer resultados, pois isso pode ser “encurtado”, a depender da visão, arrojo e execução de estratégias empresariais.

Assim sendo, seja na exploração de demandas existentes, porém, em mercados ainda não endereçados, seja em novas demandas em mercados emergentes, startups tem a agilidade para criar as competências necessárias para navegar na exploração destas oportunidades, com todo o risco que elas trazem, porém, com todo o apoio que uma empresa madura com um relacionamento estabelecido e fluxo de caixa pode proporcionar para que essa parceria – também chamado de corporate-startup engagement – seja um sucesso para ambos e o início de novos modelos de Ambidestria Organizacional.

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