Ecossistemas de Inovação: integrando recursos para o desenvolvimento regional

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O que é um ecossistema de inovação?

 

Em 1993 James F. Moore publica seu artigo “Predators and Prey: A New Ecology of Competition”, o qual buscava relacionar as semelhanças da dinâmica das empresas com as relações ecológicas dos agentes biológicos. Na contramão da “antiga visão”, em que as companhias se defrontam no mercado em busca da expansão de seu market-share, Moore sugere que as companhias não sejam observadas como agentes que influenciam apenas em determinados segmentos e setores, e sim como parte de um “ecossistema de negócios”, tendo como exemplo os grandes casos da Apple e IBM, que desenvolveram desde a indústria de microeletrônica até os negócios de tecnologia da informação e comunicação na construção dos computadores pessoais. Surgia daí a mentalidade de Ecossistemas de Inovação.

 

Em 2010, William E. Kennard, membro do conselho da Comissão Federal de Comunicações americana na década de 1990 e importante representante para os debates da comercialização da internet, respondendo a um questionamento sobre os fatores que levaram ao nascimento da internet nos moldes de hoje, explica que além do importante financiamento governamental para as pesquisas, um sistema educacional de alto nível, a sinergia entre as universidades e centros de pesquisas californianos, uma cultura local de inclinação ao risco do Vale do Silício, repleto de investimentos de venture capital e startups, foram fatores cruciais para o nascimento da internet como conhecemos. Ao fim de sua opinião editorial escrita ao New York Times, Kennard conclui: “Coletivamente, todos esses fatores criaram um “ecossistema de inovação” o qual possibilitou a incrível expansão da internet”.

 

Enquanto Moore se debruçava sobre a dinâmica de funcionamento das empresas e suas estratégias para o co-desenvolvimento através das relações entre os agentes, a concepção do termo “ecossistema” surge como um termo denominador para determinar a rica diversidade que as relações entre os agentes do setor produtivo podem conter em busca do desenvolvimento das companhias. Por outro lado, Kennard acrescenta ainda a participação de outros agentes dentro deste ecossistema de negócios, a inclusão do governo, academia, pequenos negócios, startups, incubadoras e aceleradoras, investidores de risco, recursos humanos adequados e diversos outros agentes que buscam o desenvolvimento regional através da expansão de suas atividades por meio da inovação, cunhando a relação entre estes agentes como um ecossistema de inovação. 

 

Como funciona um ecossistema de inovação?

 

No ciclo inovativo dentro de um ecossistema de inovação é comum observar 4 fases: descoberta, demonstração tecnológica, desenvolvimento e comercialização. Dentro de cada uma das fases podemos observar muito bem a relevância dos agentes presentes no ecossistema e sua influência no investimento de recursos e no nível de desenvolvimento das inovações.

 

  1. Descoberta: Nesse momento podemos observar a academia como âncora das relações na pesquisa de base. Nesta fase novas fórmulas, materiais, teorias e modelos são encontrados sem uma aplicação necessariamente prática. Esta etapa é responsável pela pesquisa de base, com alto risco para investimento empresarial e, por isso, possui alta influência do papel governamental para investimento nas universidades, laboratórios e centros de pesquisa.

 

  1. Demonstração Tecnológica: Entre o momento da invenção e a comercialização, a etapa de demonstração tecnológica é capaz de absorver as descobertas da academia e propor um protótipo para a comercialização da invenção. Nesta etapa ainda existe um alto risco de investimento para as companhias, portanto é desenvolvida geralmente por pequenos negócios e startups, com baixo nível de recursos financeiros, mas alta capacidade de recursos humanos. Esta etapa propõe aos agentes envolvidos na comercialização uma nova oportunidade de investimento, em busca de se alcançar a terceira fase.

 

  1. Desenvolvimento: Para efetivar a demonstração tecnológica é necessário a expansão de recursos a fim de ampliar a capacidade produtiva da invenção ou solução. Nesta etapa surgem os investidores. Aqui, agentes como fundos de venture capital, aceleradoras, ações de corporate venture e investidores anjo são essenciais para o desenvolvimento de um produto em busca da comercialização. Nesta etapa a indústria começa estar mais presente, com menores riscos para o investimento em busca da expansão de seus negócios.

 

  1. Comercialização: Aqui a invenção alcança o nível da comercialização. O principal agente desta etapa é a indústria, com alta capacidade de investimento e ativos para a expansão da produção da solução ou produto. Nesta etapa também podemos enxergar os investidores e o governo, como impulsionadores de produtos estratégicos e com alta possibilidade de retorno.

 

Para as empresas ampliarem sua capacidade de inovação é necessário obter uma boa compreensão dos agentes em cada uma das etapas entre a invenção e comercialização. O alto risco na etapa da invenção pode ser revertido em alto retorno na descoberta de patentes e novos produtos. Buscar por startups na fase de demonstração tecnológica e desenvolvimento reduz o nível de incertezas com bons programas de venture capital. E, por fim, na etapa de comercialização, as companhias precisam estar sempre atentas para novos negócios e como seu surgimento pode impactar no desenvolvimento da empresa.

Ecossistemas de inovação no Brasil

 

No Brasil podemos observar nos últimos anos a ascensão da integração entre os agentes através da construção de ecossistemas de inovação. Os agentes podem buscar sua integração com o objetivo da melhoria social regional, mas também pode ter como impulsionador a vocação regional em determinada capacidade.

 

Como exemplo, vamos observar alguns ecossistemas de inovação no Brasil:

 

  1. Porto Digital – Recife/PE: Com vocação para Tecnologia da Informação e Comunicação e Economia Criativa, o parque tecnológico conta com 330 empresas e 11 mil pessoas. Com forte apoio governamental a nível estadual e federal, com incentivos de recursos e apoio fiscal, o centro atraiu diversas empresas brasileiras, fomentou a criação de novos negócios de base tecnológica, e conta inclusive com empresas multinacionais, como IBM, Microsoft e Samsung. No parque podemos observar recursos humanos provindos da academia, startups, incubadoras, aceleradoras, investidores e empresas de grande porte.

 

  1. Agtech Valley – Piracicaba/SP: Piracicaba por si só já é um grande polo do agronegócio, sendo um polo estratégico no oeste paulista para o agronegócio brasileiro. Além disso, em Piracicaba também se desenvolveu uma das maiores universidades de agronomia do mundo, a ESALQ – USP. Um ambiente de negócios bem desenvolvido, com um grande ambiente acadêmico e um mercado em constante expansão, Piracicaba desenvolveu rapidamente um ambiente propício para a expansão das chamadas “agtechs”, startups voltadas para a agropecuária de precisão.

 

  1. Vale da Moqueca – Vitória/ES: Um centro em desenvolvimento com diversas empresas de grande porte de energia, mineração e logística. Com um ecossistema em expansão, cada vez mais surgem startups de diversos ramos no local, assim como investidores em busca do desenvolvimento de novos negócios. Com um programa de política pública voltada para inovação e atores da indústria como a FINDES com estratégias para o aumento do número de startups, cada vez mais o ecossistema vem ganhando força.

 

  1. Campinas/SP: Com um polo tecnológico de alto nível, Campinas vem se desenvolvendo em volta da elevada capacidade acadêmica. Grandes centros de pesquisa como o CNPEM, universidades como UNICAMP e PUC, empresas de alto nível tecnológico como CPQD e Eldorado, Campinas amplia seu potencial através da exploração da academia. Somente a UNICAMP, ao longo de sua história, foi capaz de gerar mais de 1000 empresas filhas, fundadas por alunos e ex-alunos da instituição.

 

Estes são apenas alguns exemplos de ecossistemas de inovação em expansão no Brasil. As grandes capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Florianópolis, Belo Horizonte, dentre outras, são grandes referências como ecossistemas de inovação por conta da diversidade de segmentos e portes dos agentes. O Norte e Nordeste cada vez mais vem ganhando espaço através da inovação, como Campina Grande/PB, referência mundial em recursos humanos para tecnologia da informação e comunicação; Manaus/AM, com forte ação governamental através da criação da zona franca, tem visto a expansão de seu ecossistema em eletrônica e outras tecnologias. Em Cuiabá/MT o ecossistema vem sendo expandido através das atividades do agronegócio, a exemplo do ecossistema de Piracicaba. Além de diversos outros ecossistemas espalhados por todos os estados do país.

 

 

Integrar as atividades do negócio ao ecossistema de inovação local cada vez mais se torna imprescindível, tanto para o desenvolvimento próprio da companhia, quanto para agregar no desenvolvimento regional. Portanto, é sempre importante entender como se conectar ao ecossistema e ampliar sua capacidade para inovação.

 

 

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