Fazem mais de dois anos que estamos debatendo, nos espaços entre as reuniões virtuais, as mudanças causadas pela pandemia do novo coronavírus. Um dos temas bastante discutidos e caros a algumas organizações é a adaptação dos processos e equipes para inovar com esses novos modelos de trabalho. Nessa linha e, considerando as incertezas geradas pela pandemia, o tema da segurança psicológica também voltou à tona na pauta das organizações. Mas por que esse tema tem tudo a ver com a inovação? Qual a relação entre segurança psicológica e inovação?
Segundo o MIT Sloan, a segurança psicológica não é um conceito novo, na realidade, foi cunhado nos anos 2000 pela professora e escritora Amy Edmondson, da Harvard Business School, mas ainda hoje é um dos grandes desafios estruturais e culturais das organizações.
Ao contrário do que muitos pensam, a segurança psicológica não está em um ambiente em que as pessoas se sentem constantemente confortáveis. Isso porque, muitas vezes, esse conforto pode ser gerado por evitar situações que provoquem debates e decisões difíceis. Na realidade, um ambiente psicologicamente seguro é aquele que encoraja os colaboradores a terem conversas difíceis, fazendo-os entender a importância do debate para o crescimento pessoal e da organização. Ou seja, é a percepção do(a) colaborador(a) de que existe um ambiente seguro o suficiente para exposição de diferentes pontos de vista, sem julgamento.
E, por mais simples que o conceito pareça ser, muitas empresas encontram dificuldades ao tentar colocá-lo em prática, principalmente neste momento em que a linha entre a segurança psicológica e a saúde mental ficou ainda mais tênue com modelos de trabalho híbridos ou 100% remotos. Esse novo cenário exige maior empatia das lideranças, um comportamento mais solidário e compreensivo com as sutilezas que passaram a separar o “profissional” do “pessoal”. E, para que este modelo funcione, entre as várias adaptações que estamos tendo que fazer, uma delas é a necessidade de pensar na experiência do colaborador de forma mais ampla dentro da organização, principalmente no aspecto da segurança psicológica.
E qual a relação entre segurança psicológica e inovação? Quando falamos de inovação, estamos falando de pessoas e de riscos: os(as) colaboradores(as) devem se sentir motivados a dar ideias e, ao mesmo tempo, devem entender que estão em um ambiente seguro. Sabemos que inovação não se faz sem risco e, para arriscar, é necessário que as pessoas estejam confortáveis, independente do nível do risco – ao dar uma ideia ou ao implementá-la. Quando existe esse espaço seguro, a diversidade de ideias aumenta e a inovação costuma acontecer de forma mais natural e rápida.
As organizações com alto grau de maturidade em inovação entendem a importância desse ambiente seguro para que seus colaboradores sintam-se confortáveis em propor e implementar novas ideias (aliás, se você quiser conhecer o grau de maturidade em inovação da sua empresa, temos um diagnóstico online e gratuito aqui) e, para isso, elas lançam ações e projetos que objetivam melhorar a forma como as pessoas trabalham juntas.
Um grande exemplo desse tipo de ação é o Projeto Aristóteles, desenvolvido pelo Google em 2012, com o objetivo de compreender melhor o trabalho em equipe de seus colaboradores e formar o “time dos sonhos”, que entregasse maior produtividade à cia. Após ter analisado 180 equipes de trabalho, o Google notou que, dos cinco padrões encontrados, a segurança psicológica foi considerada o principal alicerce das equipes de alto desempenho.
Com o projeto, foi possível identificar que a produtividade está intimamente ligada à forma como as pessoas se relacionam entre si no trabalho. Em outras palavras, não basta apenas aumentar salários ou formar squads com pessoas semelhantes e currículos impecáveis. É necessário criar um ambiente em que esses times de trabalho sintam segurança para se expressar, para interagir e para aprender com os erros, ao mesmo tempo em que eles também se sintam valorizados e apoiados.
Apesar dos exemplos de projetos para gerar segurança psicológica nos ambientes de trabalho, segundo pesquisa global da McKinsey realizada ao longo da pandemia, foram poucos os líderes empresariais que apresentaram comportamentos capazes de criar um ambiente seguro psicologicamente. Segundo a consultoria, o fator mais importante para gerar esse sentimento em uma equipe foi a existência de “um clima positivo, no qual todos valorizam as contribuições uns dos outros, se preocupam com o bem-estar alheio e têm voz ativa no modo como realizam seu trabalho”.
Pensando na frase acima, como sua empresa relaciona segurança psicológica e inovação? Como as equipes de trabalho da sua empresa se sentem em relação a esses aspectos? Existe hoje um ambiente colaborativo entre os times? Há sentimento de pertencimento e inclusão? Há uma preocupação genuína com o bem-estar dos colaboradores? Em relação à autonomia e confiança, os colaboradores são protagonistas em suas atividades?
Como a inovação tem se tornado uma bandeira cada vez mais importante das organizações, é essencial que as empresas olhem para seus talentos visando potencializá-los, indo além dos programas convencionais de capacitação, mas pensando em uma experiência abrangente em relação à aspectos profissionais e pessoais e na forma como esses colaboradores trabalham em equipe. Por mais que o indivíduo queira se sentir pertencido, ele também quer se sentir autêntico. Quando esses dois sentimentos estão em equilíbrio – o de singularidade e o de pertencimento – há inclusão, fator essencial para trazer mais inovação aos negócios, segundo a professora da Leed School of Business, Staefanie K. Johnson e, fundamental para gerar um ambiente de alta segurança psicológica.
Fontes:
What Psychological Safety Looks Like in a Hybrid Workplace. Harvard Business Review, 2021.
Segurança Psicológica – O Fator Mais Importante das Equipes de Sucesso. Fractos, 2021
Segurança psicológica e o papel crucial do desenvolvimento da liderança. McKinsey & Company, 2021.
Por que empresas inovadoras precisam garantir segurança psicológica. Forbes, 2020.
Livro “Inclusifique” – Stafanie K. Johnson.
[avatar user=”Mariana Briamonte” size=”thumbnail” align=”left” link=”file”]Mariana Briamonte Consultora de Inovação[/avatar]