O futuro do setor elétrico no Brasil

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O setor elétrico está passando por intensas mudanças em todo o mundo, derivando transformações que impactam desde a geração até a forma como a energia é utilizada pelas indústrias e consumidores. No Brasil, os sinais dessas mudanças já começam a ser percebidos pelos players do setor, que passam a conferir ritmo acelerado em seus esforços de inovação para o desenvolvimento de soluções energéticas, promovendo digitalização, descentralização, descarbonização e diversificação e apontando novos rumos para o futuro do setor elétrico. 

A fim de compreender ainda mais sobre a modernização desse segmento e após um mergulho abrangente no tema, identificamos e organizamos neste artigo algumas das principais mudanças que definirão o futuro do setor elétrico no Brasil nos próximos anos. Tratamos também de apontar quais são os grandes impulsionadores, ou seja, os fatores que serão os gatilhos para estas transformações.

 

Gatilhos das mudanças

Principais fatores que estão pressionando o setor elétrico a passar por transformações:

  1. Pressão por confiabilidade e eficiência na geração
  2. Pressão por energia renovável, limpa e acessível 
  3. Pressão regulatória
  4. Pressão de novos entrantes e mercados em formação
  5. Pressão pelo lado da demanda 

 

O futuro dos setor elétrico no Brasil: Principais transformações e expectativas de protagonismo

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Servitização no setor e empoderamento dos consumidores

 

Os consumidores, mais atentos e conscientes do seu consumo, estarão no centro do processo e poderão avaliar, escolher e gerenciar melhor seus gastos com energia. Protagonistas das próprias decisões, os clientes participarão mais ativamente da gestão energética, exigindo e adquirindo as soluções mais convenientes. A expectativa é de, por exemplo, monitorar os dados de consumo de energia da uma casa, ou da linha de produção de uma indústria, de maneira instantânea, simplificada e inteligente. 

Cidades inteligentes habilitadas para Internet das Coisas (IoT) – incluindo iluminação pública inteligente, dispositivos de tecnologia doméstica, soluções de geração descentralizada, e etc – já passam a figurar no território brasileiro. Nestas cidades, como a Smart City de Laguna no Ceará, plataformas digitais já realizam análises baseadas em dados, que mostram as interações entre a eletricidade e o consumo, levam insights para os consumidores, e identificam o perfil dos usuários. Soma-se a isso o fato de que nos próximos anos os veículos elétricos estarão permeando o cotidiano das pessoas. Sendo assim, novos serviços para que todos possam operar e gerir seus eletropostos serão demandados em locais como shoppings, supermercados, locais de trabalho, postos de combustíveis, condomínios, dentre outros. 

Empresas irão oferecer energia como serviço, e para isso precisarão formar parcerias e colaborar para ter sucesso. O conceito de Energy as a Service (EaaS) propõe um sistema em rede horizontal e distribuído, em que todas as partes envolvidas na geração tradicional de energia, geração renovável, pontos de distribuição e usuários, se integrarão em um sistema de automação elevada, com um fluxo bidirecional de eletricidade e informação.

 

Abertura de mercado e mudanças na forma de comercializar energia

 

O Mercado Livre de Energia ganha cada vez mais relevância no cenário nacional. Esse novo desenho de mercado vem acontecendo de maneira gradual, e irá trazer mais competição para o setor, que passará por uma pulverização em relação ao número de atores. Traz também a necessidade de maior segurança, dinamismo, flexibilidade e transparência entre as transações de energia. 

Negócios digitais, de rápido crescimento e que estimulam a utilização de fontes alternativas e sustentáveis para a geração de energia, ganham ainda mais espaço no mercado de comercialização. As plataformas digitais de comercialização de energia passam a ter cada vez mais adesão e atingir cada vez mais as camadas dos pequenos consumidores, funcionando como agregadoras da oferta e da demanda e proporcionando experiências muito similares às de e-commerce. Nesse mesmo sentido, modelos peer-to-peer para a comercialização de energia também devem emergir futuramente.

Novas modalidades de comercialização, como “Contratos Futuros” (derivativos) tornam as transações mais líquidas, dinâmicas e protegidas em relação a variações de preço. Além disso, a tokenização de créditos de energia renovável (RECs) é vista como alavanca para viabilizar a comercialização desses certificados em grande escala, criando um mercado global. O blockchain será um fator chave dessa transformação.

 

Maior precisão e maturidade operacional

 

Ocorrerá um movimento de busca por eficiência de forma abrangente em todas as atividades de O&M (Operação e Manutenção) das empresas do setor. Tanto a geração de eletricidade, como a gestão de seus ativos, terão saltos de eficiência decorrentes da digitalização e automação. 

Neste cenário há conexão direta com os atributos da Indústria 4.0, sendo assim, a cibersegurança e o 5G desempenharão papéis fundamentais. Será visto um aumento da capacidade de análise e da habilidade de tratar dados, gerando modelos mais assertivos e painéis de análise aprimorados, o que irá habilitar uma governança operacional mais eficiente, reduzindo incertezas operacionais e aumentando a produtividade dos ativos e da infraestrutura da rede. 

Previsões meteorológicas sob demanda e específicas de cada local endereçarão a necessidade de previsões hiper precisas do setor. Temas como segurança do trabalho, e capacitação da mão-de-obra ganharão atenção cada vez maior, a exemplo disso, wearables já passam a ser adotados para redução dos riscos no local de trabalho e suporte aos trabalhadores em campo. Além disso, tecnologias de auxílio a projetos de infraestrutura, assim como novos materiais e estruturas modulares tornarão o processo de desenvolvimento de novos empreendimentos mais rápidos e precisos. Tudo isso, com o objetivo de reduzir o custo do insumo, e de atender a crescente demanda por eletricidade.  

 

A transformação da matriz energética e o enorme potencial brasileiro

 

Soluções energéticas – baseadas em tecnologias para transição para a energia limpa – de maior desempenho  e cada vez mais acessíveis levarão o Brasil a uma rota de exploração e diversificação da matriz. Avanços no desenvolvimento da geração solar e eólica (onshore e offshore) levarão a um aumento da competitividade destas modalidades, que devem ter a implantação exponencialmente alavancada nos próximos anos. O potencial combinado das plantas híbridas de energia, incluindo sistemas de armazenamento, trará maior estabilidade na geração, permitindo maior controle da intermitência das fontes renováveis. Além disso, tecnologias alternativas de geração e armazenamento, como o hidrogênio verde, criarão novas cadeias de valor, o que abre um horizonte de oportunidades para o país, e uma expectativa alta de que o Brasil se torne protagonista dessa mudança.

 

ESG e os projetos com impacto positivo

 

O mundo vem mudando o foco e as empresas conscientes estão ganhando evidência. Impulsionada pelas exigências ESG, as iniciativas de sustentabilidade ganham um novo patamar. As empresas passam a lançar mão de ações que devem olhar para a comunidade, o cliente, o colaborador, o fornecedor e o investidor. Impactos negativos são cada vez menos aceitos pela sociedade.

No cenário nacional e no contexto do setor elétrico, é importante garantir o acesso à energia elétrica: alcançar comunidades não contempladas, e preços acessíveis para que pequenos consumidores e famílias também tenham acesso a fontes renováveis. Projetos piloto de impacto que geram energia renovável em regiões remotas do Brasil e/ou em áreas rurais, baseados na geração descentralizada, ganharão escala. Consequentemente, eles viabilizarão a redução do consumo de combustíveis fósseis para abastecer estas regiões. Iniciativas como estas deverão eletrificar escolas, postos de saúde, comunidades e até aldeias indígenas. Além disso, existe oportunidade de impactar positivamente o processo produtivo da cadeia do agronegócio, a exemplo das soluções agro-voltaicas, que combinam o uso agrícola da terra com a produção de energia elétrica. 

A sustentabilidade irá figurar no centro da competitividade no setor de energia no Brasil e se fará presente no radar das grandes corporações globais em todos os mercados – muitas delas já vem firmando compromissos de se tornarem carbono neutras, reduzindo as emissões de poluentes em todas suas cadeias de valor, e utilizando a energia limpa como um artefato para redução da emissão de poluentes.

 

Territórios de Inovação para o Setor de Energia - O futuro do setor elétrico

 

Devido a sua capacidade de geração e do potencial em relação ao desenvolvimento tecnológico, há a expectativa de que o Brasil assuma um papel de protagonista na transformação e no futuro do setor elétrico. Para não perder essa oportunidade, e para beneficiar governo, indústria e a sociedade como um todo, o país precisa ter diretrizes claras para nortear esse avanço. 

 


 

Fontes:

• Relatório “Innovation Landscape For A Renewable-Powered Future: Solutions To Integrate Variable Renewables”. IRENA (International Renewable Energy Agency).

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