Os eventos recentes que estamos vivendo com a pandemia e os impactos desse processo têm me feito pensar um pouco mais sobre todas as transformações que estamos passando e perdurarão em nossas vidas.
Se está claro que o jeito das pessoas consumirem, trabalharem, estudarem e se locomoverem sofrerão grandes transformações, não deveríamos esperar um resultado diferente no mundo da gestão e da inovação.
Nessas últimas semanas realizamos um estudo na Inventta, que chamamos de “A inovação não pode parar” e promovemos algumas conversas com parceiros e clientes que nos permitiu formar uma imagem dos impactos de todas essas transformações na forma com a qual as organizações realizarão seus esforços de inovação.
Sem procurar ser exaustivo sobre todos os impactos que teremos, trago aqui nesse artigo para nossa reflexão alguns que julgo apontarem a necessidade de mudanças no jeito de inovar:
Em relação ao consumidor:
- Restrição da mobilidade: seja ainda pela necessidade do isolamento social, ou mesmo quando tratamentos eficazes e vacinas existirem, por mudanças de estilo de vida.
- Mega-digitalização: a experiência atual de isolamento tem promovido a adoção radical das tecnologias digitais nos diversos aspectos da vida. Estudar, comprar, trabalhar, se divertir, todas na lógica digital, serão práticas adotadas por muitos no seu dia-a-dia.
- Medo e Incerteza: a pandemia do corona vírus nos mostrou o quanto estamos susceptíveis a eventos de grande impacto nas nossas vidas. Muitas pessoas ainda estarão convivendo com o medo pelo impacto desse momento. Para alguns ansiedade sobre o futuro, seus empregos, suas rendas, para outros, sobre a sua saúde, sua sobrevivência.
Em relação ao mundo dos negócios:
- Reconfiguração das cadeias de valor: a forte dependência, por exemplo, que alguns negócios criaram em relação a China para os seus processos produtivos foi escancarada pela epidemia. Muitas fábricas no Brasil tiveram que encerrar temporariamente suas operações por não terem conseguido receber insumos no período em que estava crítica a pandemia naquele País. Grandes empresas vou procurar criar alternativas que mitiguem riscos de dependência regional, sinalizando uma oportunidade de reorganização das cadeias de valor. Ainda, com a quebra de muitas empresas, surgirão diversas oportunidades de M&A e consolidação do mercado.
- Novos modelos de negócio: a amplitude do impacto da pandemia em alguns setores e negócios é tão significativa que diversas organizações terão que transformar completamente seus modelos de negócio. Imaginem como a indústria do entretenimento ou de escritórios corporativos farão para sobreviverem à não aglomeração e a redução da importância da presença física para trabalhar, respectivamente.
- Consciência da lógica sistêmica: o impacto social da pandemia é tão relevante que de forma genuína, autêntica, diversas organizações se deram conta do impacto sistêmico que elas têm na sociedade. Esse será um caminho sem volta. Veremos cada vez mais, empresas mais conscientes pois isso gerará mais valor para elas e para todos.
Reconhecendo que as mudanças acima estão em curso de forma perene e definitiva, atrevo-me abaixo a apontar o que creio que irá acontecer com o jeito das empresas inovarem.
- Virtualização: a experiência de virtualização da educação, das reuniões de trabalho e mesmo do relacionamento entre as pessoas deixará um legado que será replicado também à maneira em que as pessoas participam do processo de inovação. Ferramentas digitais para participação de todos no processo ou mesmo outras ferramentas para entender o consumidor mais digital terão mais força no processo de inovação.
- Maior colaboração: a pandemia ampliou a conexão entre diversas empresas em prol do combate os desafios sociais que estamos vivendo. Essa experiência e prática se tornará mais frequente e a inovação B2B – em especial entre empresas grandes – ganhará mais espaço no mundo da inovação aberta.
- Aproximação da Inovação com a Estratégia do Negócio: se até então, para algumas empresas a inovação era uma área que tinha como missão criar novos produtos e oportunidades de geração de valor para o negócio, nesse momento em que muitas empresas têm que se transformar completamente, inovar passou de “uma” para “a” estratégia da organização.
- Venture building: na busca pela transformação, muitos modelos de negócio sofrerão grandes mudanças. Mais do que desenvolver novos produtos ou processos, as empresas terão que ser aprender a criar novos negócios, explorar adjacências. É o venture building como alavanca de transformação dos modelos de negócios existentes.
- Busca pela antifragilidade: criar redundâncias para diminuir a susceptibilidade aos impactos de eventos extremos como a pandemia do corona vírus, será um movimento natural das organizações. Redundância é um dos pilares das organizações que evoluem com a volatilidade, tais como as crises que assolam frequentemente os negócios.
Por fim, vale dizer que acredito muito na força das palavras e que o futuro começa a ser construído à medida em que começamos a visualiza-lo, difundi-lo e debate-lo com outras pessoas. Não posso negar que as premissas do novo jeito de inovar que aponto acima não deixa de ser uma representação do que gostaria que se tornasse realidade.
Que venha o futuro!