Inovando sustentavelmente: Como viver o desenvolvimento sustentável dentro das organizações

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1. Por que pensar em desenvolvimento sustentável?

 

Diversos casos já comprovam que a pauta sustentabilidade vem se tornando um fator cada vez mais relevante na valoração das companhias. Estratégias como  da Natura, que lida de maneira sustentável com a biodiversidade amazônica, mostra como é possível inovar e garantir cada vez mais vantagens competitivas considerando a sustentabilidade como fator crucial no desenvolvimento de negócios. Este artigo busca explicitar os conceitos envolvidos no termo “desenvolvimento sustentável” e ainda propor um modelo metodológico para aplicação nas organizações. Vamos lá?

 

2. O que é desenvolvimento sustentável?

O conceito de desenvolvimento é difundido há muito tempo, e cabe a diferentes objetos, os quais sofrem transformações e melhorias, no sentido mais amplo da palavra desenvolvimento. No entanto, o conceito de sustentabilidade é mais recente e mais complexo do que o de desenvolvimento propriamente dito. O Prof. Dr. Roberto Donato da Silva Junior (NEPAM – UNICAMP), estudou exatamente o caráter polissêmico da palavra sustentabilidade e guiou quais as áreas devem ser embarcadas ao pensar no termo. Para Roberto, a sustentabilidade possui quatro arranjos conceituais que devem ser levados em conta:

1) Antropológico: aborda os temas ecológicos-culturais e socioculturais

2) Ecológico: busca a integridade ecológica e a manutenção das funções ecológicas

3) Sociológico: aborda os temas sociopolíticos e socioecológicos.

4) Econômico: considera os limites do capital natural e dos processos políticos econômicos.

 

 

3. Como inovar de forma sustentável dentro companhia?

 

Considerando esses aspectos, o processo de elaboração da estratégia da companhia em busca de um desenvolvimento sustentável pode ser guiado de forma mais clara e os projetos podem ser desenvolvidos de maneira mais assertiva. De modo geral, podemos ligar cada um dos aspectos da sustentabilidade à um exercício básico dentro das empresas, definir quem a organização efetivamente é e como ela se vê no futuro através de um caráter organizacional normativo (WHO), elaborar quais são os objetivos e metas a longo prazo através da estratégia da companhia (WHAT) e, por fim, como chegar aos resultados planejados implementando-os na operação das atividades (HOW).

 

3.1 Quem somos e quem queremos ser? (WHO)

 

A definição do WHO da empresa passa, principalmente, pelo arranjo antropológico da sustentabilidade e pelo caráter normativo das organizações, considerando os aspectos socio-ecológicos e socioculturais, ou seja, compreendendo a realidade dos colaboradores, tomando ciência de suas origens e aspirações como forma de elaborar os valores, atitudes e crenças que servirão como as normas base da cultura organizacional da companhia. Na literatura para o desenvolvimento sustentável, o caráter socio-ecológico está intimamente ligado às estratégias de adaptação ao ambiente onde vive, portanto deve-se considerar, por exemplo, a rotina de deslocamento do colaborador, a infraestrutura onde realiza suas funções, e diversos outros aspectos relacionados ao ambiente onde vive. Já o caráter sociocultural está relacionado à história de cada indivíduo e suas relações interpessoais cotidianas, as quais definirão as ações de cada colaborador frente a diferentes contextos e, portanto, como seus valores refletirão em cada uma de suas decisões em seu cotidiano.

 

3.2 Quais são nossos objetivos? (WHAT)

 

No contexto em que se busca idealizar quais serão os objetivos de longo prazo da companhia e o que serão seus produtos e serviços, ou seja, elaborar o caráter estratégico da empresa, para incorporar as medidas de desenvolvimento sustentável é necessário considerar os arranjos ecológicos e sociológicos.

 

Para o arranjo ecológico existem 4 fatores determinantes. O primeiro, ligado à ideia Malthusiana, a qual leva em consideração a contradição entre a exponencialidade do crescimento do consumo pela população e os recursos necessários para atender estas demandas; desse modo, as companhias devem buscar maneiras de adequar sua matriz de produção utilizando recursos que sejam perenes. Por um outro ponto de vista, encontra-se a ideia de riqueza, a qual leva em conta o aspecto da biodiversidade e conservação das comunidades no meio ambiente e, portanto, um objetivo concreto para o desenvolvimento sustentável das organizações precisa focar suas ações em busca da manutenção da estabilidade dos fatores variados de um sistema ecológico onde exerce suas atividades de produção. A terceira ótica apresenta a questão dos sistemas ecológicos complexos; neste caso a companhia precisa ter ciência da interdependência entre fatores biológicos e não biológicos, ou seja, a noção de ecossistema precisa ser levada em consideração, uma vez que os indivíduos e comunidades dependem dos recursos vivos e não vivos no sistema ecológico onde vivem; neste aspecto sugere-se a prática de sustentabilidade denominada “manejo adaptativo”, um conceito o qual coloca no centro das decisões sempre um grau de incerteza biológica, colaborando para uma cultura de constante adaptação ao ambiente em que está inserido. Por fim, numa escala maior de observação do conceito ecológico, o fator da paisagem leva em consideração a interação entre os eventos ecológicos e sociais em um ecossistema; este fator pode contribuir para as empresas compreenderem as mudanças no ecossistema de maneira mais clara, uma vez que pode comparar diferentes paisagens conhecendo profundamente as relações entre os agentes ecológicos e sociais.

 

O arranjo sociológico, por outro lado, considera 3 fatores principais. A modernização ecológica surge como um conceito que busca definir a ideia do surgimento da pauta sustentável a partir do próprio processo de desenvolvimento da modernidade; tal fator integra, portanto, a própria sociedade aos debates sobre ecologia, gerando um fator socio-político, o qual colocará o Estado como um regulador sobre o tema. Outro aspecto diz respeito ao construtivismo, aspecto que coloca em pauta as questões relacionadas ao termo sustentabilidade como um debate contextual, ou seja, em determinados momentos e contextos sociais, a produção do conhecimento científico, atrelado à percepção de risco da sociedade, pode determinar o caráter político sobre ações sustentáveis. Portanto, uma empresa também precisa diagnosticar as pautas sustentáveis mais relevantes no contexto em que vive. Para exemplificar, considere a questão da matriz energética hidrelétrica, a qual inquestionavelmente é mais limpa do que a energia produzida termoeletricamente, a base da combustão do carvão. Ainda que as termoelétricas sejam muito criticadas pela emissão de CO2, e está longe de ser um modelo sustentável, uma matriz de energia hídrica também encontra barreiras para ser uma solução alternativa a essa produção, uma vez que o debate sobre a sustentabilidade atual discute a manutenção dos ecossistemas e a demarcação de terras indígenas, os quais são fatores profundamente afetados na construção de uma hidrelétrica, e que por anos não foram debatidos profundamente. Portanto, atentar-se a questão construtivista é extremamente relevante. Por fim, o caráter do risco surge como uma forma de explicitar uma questão inerente ao processo de modernização, a qual aborda a relação entre produção e risco. Se a princípio uma empresa pensa em produzir novos produtos minimizando os fatores de risco, nesse aspecto da sustentabilidade sociológica, toda nova produção gera riscos cada vez mais imprevisíveis a medida que a sustentabilidade se torna cada vez mais um caráter político e passível de mudanças de acordo com o contexto. Desse modo, a empresa deve sempre fazer novos projetos pautados em modelos de validação e centralização do cliente em todas as ações da companhia.

 

3.3 Como alcançamos nosso objetivo? (HOW)

 

Como etapa final, a nível de execução das normas e estratégias, o caráter operacional precisa navegar em sintonia com o arranjo econômico para o desenvolvimento sustentável dos processos e atividades exercidas pela companhia.

 

Neste caso duas perspectivas são consideradas e operadas de diferentes maneiras. A perspectiva ambiental econômica leva em consideração a possibilidade de “internalização das externalizações”, a qual busca lidar com os impactos ambientais gerados pelos serviços e produtos da companhia; neste caso a empresa precisa lidar como fator principal a poluição gerada nos seus processos de produção e, mais do que pensar sobre seus impactos, encontrar maneiras de reduzir e compensar seus danos. A “alocação intertemporal” busca entender a melhor maneira de se explorar recursos e lidar com sua escassez a longo prazo, a qual inevitavelmente aumentaria os preços dos produtos e, possivelmente, perderia mercados consolidados; aqui a companhia precisa desenvolver processos de melhorias na exploração de seus recursos e, por vezes, substituindo-os por outros mais perenes e com menores impactos ambientais. Outro fator desta perspectiva é a “substitubilidade entre capitais”, a qual lida de maneira otimista com as inovações tecnológicas, as quais serão capazes de suprir as demandas por novos recursos de produção; neste caso é preciso ter uma atenção especial, pois a simples substituição de recursos pode levar a um processo nada sustentável de esgotamento de diferentes recursos, afetando toda a cadeia, desde os aspectos ecológicos, até os sociais e antropológicos.

 

 

.4. Por onde começo?

 

Um bom costume que cada vez mais vem sendo apropriado pelas empresas é a apropriação de conhecimento sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). As ODS’s são um conjunto de objetivos capazes de abordar todos os arranjos do desenvolvimento sustentável, passando por aspectos ecológicos, econômicos, sociológicos e antropológicos, através de uma ação conjunta desenvolvida pela Organização das Nações Unidas (ONU) buscando solucionar problemas relacionados a pobreza, a busca pela prosperidade e bem-estar de todos os indivíduos e ainda garantir novos modelos de interação com o meio ambiente para enfrentar as mudanças climáticas. Ao todo são 17 objetivos que abordam diferentes temas.

 

Como forma de incorporar a pauta de desenvolvimento sustentável na sua organização, uma boa ideia pode ser colocar como um dos objetivos de sua companhia atrelada a pelo menos um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. A tarefa não é simples, mas o planeta já dá inúmeros sinais da necessidade de mudanças agora. Te convido então a pensarmos juntos cada vez mais sobre inovação sustentável! Vai planeta!

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