Semanalmente conduzimos diversos workshops de ideação com nossos clientes com o objetivo de auxiliar no processo de geração de novas ideias para desafios e oportunidades mapeados. Independente se no formato de dinâmicas presenciais ou remotas – como estão hoje todos as nossas atividades e de grande parte de nossos clientes -, o receio dos participantes e de quem está organizando pela primeira vez é sempre o mesmo: “e se não sair nenhuma ideia?”. Na verdade, são tantas que a inovação é também sobre foco e escolhas!
Sempre digo para não se preocuparem com isso porque, embora quebre a expectativa de muitos que ainda não trabalharam diretamente com inovação, em geral o problema é justamente o contrário: como selecionar as ideias a serem desenvolvidas em meio a centenas (sim, centenas!) de opções criadas?
No texto de hoje abordo sobre o desafio da priorização de ideias e compartilho algumas boas-práticas que tem nos ajudado em nossos projetos a não deixar o processo inovativo perder velocidade por excesso de ideias e dificuldade na priorização, clareando a afirmação de que inovação é também sobre foco e escolhas!
Nos últimos anos foram desenvolvidas e disseminadas diversas metodologias práticas de ideação para inovação corporativa, a maior parte delas para ajudar um grupo a ter boas ideias. Um processo de ideação, se bem direcionado por uma questão que de fato importa ao negócio e bem conduzido por ferramentas que explorem o melhor do indivíduo e do coletivo de forma cooperada, certamente gerará uma grande quantidade de boas ideias. O processo de divergência, no qual os participantes exploram diversas lentes e pontos de vista sobre o desafio proposto para pensar em diferentes rotas de solução, é portanto bem endereçado por diversas ferramentas atuais, além de se encaixar muito bem no perfil de pessoas criativas, público que em geral participa mais ativamente desse tipo de atividade.
Tão importante quanto o processo de divergência, porém, é o processo de convergência. É ele o responsável por analisar opções e tomar decisões, sendo crucial para dar ritmo ao processo de ideação. Embora existam ferramentas para auxiliar os times na análise e priorização de ideias, percebo que em geral há uma dificuldade significativa nesse ponto. Como não se é possível executar um grande número de ideias ao mesmo tempo, a ausência de um processo eficaz de convergência é um dos grandes desafios dos processos de inovação pois afasta as ideias de sua execução. As razões para esse desafio são diversas, mas destaco duas que acredito que sejam as principais:
- Perfis que participam de sessões de ideação são em geral perfis criativos, que muitas vezes possuem dificuldade na tomada de decisão. Essa ausência de diversidade nessa dimensão ocorre muito pelo fato de frequentemente as pessoas associarem apenas a esse tipo de perfil as atividades de inovação, o que não é correto.
- Processos de priorização típicos de atividades do dia-a-dia dos negócios, se aplicados a ideias, geram dificuldade na tomada de decisão pois em geral diversas ideias carregam um elevado nível de incerteza, tornando a decisão “go / no go” difícil ou pouco assertiva, sobretudo com ideias ditas “fora da caixa”.
Assim, a capacidade de se ter um pensamento que diverge e converge sucessivamente é uma das competências mais importantes para uma equipe de inovação, com foco e habilidade de escolhas. Ela é a chave para a execução de boas ideias e a geração de valor decorrente. Reparem que é o time como um todo que deve contar com essa capacidade, e não necessariamente as pessoas individualmente, já que o processo de ideação pode e deve contar com a virtude do olhar sistêmico coletivo.
Não é à toa que o conceito de Design Thinking, já amplamente disseminado no contexto da inovação corporativa, possui em sua metodologia um processo chamado “Diamante Duplo”, como mostrado na imagem abaixo, a fim de garantir que durante o processo de inovação o time passe por pelo menos dois momentos de divergência-convergência. Quem já viveu o Design Thinking na prática sabe que esse tipo de pensamento convergente-divergente acaba ocorrendo constantemente, sobretudo quando o mindset dos envolvidos já conta com uma cultura de inovação.
Ao longo das centenas de workshops de ideação que já realizamos na Inventta, foi possível identificar padrões de sucesso nos times, ferramentas e processos aplicados que resultaram na identificação e seleção de boas ideias. Compartilho com vocês as principais boas-práticas para o processo de [desapego] priorização das ideias:
- Criar um ambiente de segurança na exposição de pontos de vista: é importante que todos os participantes tenham voz e se sintam seguros em expor opiniões e pontos de vista. Para isso, mesmo que o time conte com pessoas criativas, o processo deve estabelecer momentos em que se valorize ideias que no contexto do dia-a-dia do negócio seriam vistas como “malucas” ou “impossíveis”. Mesmo que essas ideias não venham a ser selecionadas, elas podem alavancar outras ideias derivadas delas que podem ter alta aderência com o desafio proposto. Esses momentos permitem à empresa pensar em alternativas “fora da caixa” e mudar o mindset de escolha no momento da priorização. Caso esses espaços de segurança não existam, há o risco das ideias selecionadas serem exatamente as ideias que em geral já vivem dentro das discussões cotidianas do negócio, por um desconforto dos participantes em defenderem pontos de vistas distintos.
- Explorar diferentes perfis em diferentes momentos do processo de inovação sobre foco e escolhas: um processo de ideação possui várias etapas e não necessariamente os participantes devem ser os mesmos em todas elas. Por exemplo, na etapa de prototipagem da ideia, pode fazer sentido convidar pessoas com perfil “mão-na-massa” que eventualmente não gostariam de participar ou não gerariam valor na etapa de entendimento do desafio. Essa diversidade de perfis ao longo do processo pode ajudar a balancear o viés de convergência versus divergência em cada momento do processo, tornando as decisões mais fáceis.
- Contar com um time multidisciplinar: equipes com competências distintas e complementares em geral criam discussões ricas que, além de induzirem à geração de ideias mais inovadoras, permitem considerar diferentes pontos de vista no momento de selecionar as ideias mais aderentes aos desafios. Quanto mais diversificado o background do time envolvido, maior a chance de se criar boas ideias e selecionar as melhores através de um olhar holístico ao desafio.
- Definir claramente critérios de seleção aderentes ao desafio e ao negócio: priorizações de “sim ou não” apenas pelo entendimento do potencial da ideia não levam em conta outros critérios que podem ser críticos para a entrega de valor ao negócio. Por exemplo, há empresas que preferem terminar um processo de ideação com um portfólio de ideias que possam dar resultado no curto, médio e longo prazo – para isso, utilizam um processo de seleção que força a identificação e escolha de ideias para essas “cestas”. Outras preferem garantir que os tipos de inovação envolvidos nas ideias sejam diversos: ideias de novos produtos, de novos negócios, de novos processos, de novos canais, etc. Assim, priorizar uma ideia apenas pelo seu potencial pode levar a um resultado do processo de ideação pouco efetivo para o desafio proposto, além de gerar um sentimento de injustiça e contestação pelos apoiadores de ideias não selecionadas.
- Agrupar ideias similares antes do processo de priorização: escolher ideias dentro de um pool de opções que não foi previamente tratado gera dificuldade na escolha por geralmente conter ideias similares. Sobretudo quando se conta com votação com votos limitados, não faz sentido avançar no exercício sem agrupar ideias similares simplificar as escolhas e evitar o risco de insights importantes ficarem para trás.
- Contar com a agilidade de votações individuais simplificadas: votações nem sempre levam a escolha da melhor ideia em absoluto, mas muitas vezes a melhor opção é aquela que traz consenso, já que sabemos que toda e qualquer ideia terá de ser modificada, transformada, pivotada diversas vezes antes de encontrar aderência com a necessidade de seu público-alvo. Votações individuais pode ser um caminho simples para dar celeridade ao processo, mas devem ser realizadas levando-se em conta critérios aderentes ao desafios, a fim de não se tornarem simplórias.
- Ter um processo de teste de ideias antes da escolha final: as ideias, sobretudo as mais disruptivas, carregam um nível de incerteza alto que, se não validadas, serão escolhidas para serem desenvolvidas por diversas suposições pessoais de quem eventualmente não está na pele do usuário / cliente. Processos de teste, prototipagem e validação permitem que a priorização dependa menos dos ideadores e mais dos usuários a quem as ideias deveriam entregar valor, sendo, portanto, mais assertivos e menos incertos.
Por fim, sempre reforçamos na Inventta que não há receita para inovação, mas o aprendizado pode ser catalisado através de boas práticas de quem já passou por desafios similares. O importante é encaixar essas boas práticas dentro da cultura da organização para criar um processo único e que maximize o valor gerado para o negócio, fazendo acontecer a inovação com foco em resultado.
E você, concorda que inovação é também sobre foco e escolhas? Tem alguma dica sobre como explorar melhores resultados em processos de convergência com times de inovação?