A pandemia do COVID-19 tem se mostrado diferente de outras tantas que passamos ao longo da História. Em um mundo altamente globalizado, em que não só a doença em si, mas as informações sobre ela se propagam de maneira assustadoramente rápida, muitas foram as opiniões sobre quais seriam os efeitos na economia dos países afetados. No início do ano, algumas dessas teses afirmavam que ela seria pontual, severa do ponto de vista da saúde, mas que não afetaria estruturalmente as empresas e governos no quesito econômico. Algumas semanas se passaram e já conseguimos ter uma melhor análise sobre como esse cenário, ao contrário do que muitos difundiram, já está afetando empresas de diversos setores da economia, em escalas diferentes.
Joseph Schumpeter foi um renomado economista que estudou assuntos semelhantes a esses que somos levados a considerar no atual momento: crises, inovação, disrupções e como há diversas empresas que nascem e outras mais que deixam de existir em períodos de intensa transformação. Muito influenciado pela teoria evolucionista de Darwin, Schumpeter entendia que as relações evolutivas aconteciam de maneira semelhante na economia: empresas inovadoras e que constantemente se adaptam sobreviveriam, enquanto que as empresas que não se adaptam aos novos cenários e inovam, morreriam.
Em uma de suas obras, o autor cunha o termo “destruição criativa”, que representa os momentos em que novas tecnologias surgem como ondas, e geralmente vem acompanhada de ganhos de eficiência que colocam essa empresa inovadora a frente de suas concorrentes. Os ciclos econômicos de expansão e retração vêm, na visão de Schumpeter, acompanhados de saltos de inovação, trazendo dinâmica para o sistema econômico.
A era da globalização digital acelerou as transformações em diversas áreas funcionais de uma organização e as áreas de inovação também sofrem os efeitos desse processo. As ondas de inovação de Schumpeter são marcadas pelas expansões e recessões econômicas, agregadas às inovações tecnológicas desses momentos. Vale notar que os ciclos têm ficado cada vez mais rápidos. O primeiro, relacionado à revolução industrial, durou 6 décadas, enquanto o atual provavelmente levará metade desse tempo para se concretizar. É muito provável que estejamos vivendo o fim de um ciclo, que traz no horizonte o início de outra onda de disrupção e novidades para as empresas.
.
.
Ciclos mais curtos, significam inovações disruptivas mais recorrentes e uma necessidade de planejamento cada vez mais apurado por parte das empresas em relação aos seus projetos e esforços de inovação no médio e longo prazo. Há a necessidade de passar por essa crise, mas tão importante quanto superá-la, é garantir os esforços que manterão essa empresa viva pelos próximos vários anos.
Há uma parte importantíssima nesses ciclos de inovação e os dados a seguir podem trazer mais ânimo para esse período difícil que estamos vivendo.
Dados do Fórum Econômico Mundial mostram que o Brasil investe em pesquisa e desenvolvimento valores semelhantes ao Reino Unido e Rússia, superando ainda países europeus como Itália, Espanha e Holanda.
.
.
O investimento público em inovação é de extrema importante, visto seu impacto em parcerias com indústrias ao promover inovação nas mesmas, melhorando produtos, processos e incentivando-as a desenvolver novas tecnologias para o setor. Após a crise de 2008, vimos o investimento brasileiro em P&D subir em 50% entre 2007 e 2015, além do aumento significativo da parcela do PIB relacionado a essa área. Esses dados nos trazem uma visão de como podem ser os próximos anos no Brasil e como as empresas terão campo fértil para seus esforços em pesquisas e inovação.
Por fim, quero trazer exemplos de empresas desconhecidas ou ainda inexistentes até a crise de 2008 e que hoje certamente estão nos celulares de praticamente todos os brasileiros. Uber, Airbnb, Pinterest e Whatsapp foram todas startups criadas entre 2008 e 2009 após a crise financeira que revolucionaram a forma como as pessoas se comunicam e alguns de seus hábitos. Seus impactos no nosso cotidiano foram tão grandes que hoje praticamente não conseguimos nos imaginar vivendo sem essas tecnologias.
A crise atual deve ser enfrentada com muita seriedade, mas também como momento de oportunidades para as empresas revisarem seus planos de curto, médio e longo prazo. Entendendo que as mudanças já começaram, para sobreviver a esses novos cenários, as empresas precisam lidar com inovação e adaptação como aliadas na sua estratégia, não só nesses momentos turbulentos, mas de maneira contínua no cotidiano da companhia.