As revoluções industriais estabeleceram uma lógica linear de produção que possibilitou uma escala produtiva capaz de ultrapassar continentes. A união dessa grande capacidade produtiva com fortes estratégias competitivas acabou culminando em um mundo de companhias gigantes, que dominam seus setores e que são referências de consumo no imaginário de diferentes povos e culturas, tecnologias e mentalidade.

Mas será essa a lógica que irá perdurar para todo sempre?

Os movimentos tecnológicos têm mostrado que talvez uma lógica mais descentralizada, colaborativa e pautada no compartilhamento pode começar a tomar a cena.

Vamos começar falando então de algumas das tecnologias queridinhas do momento?

Você já deve imaginar que vamos falar de Blockchain e Inteligência Artificial. 

A Blockchain está na boca do povo. Foi lançada pelo mundo das criptomoedas e logo começou a sofrer especulações para usos em outros contextos. Está sendo testada na logística, na rastreabilidade de diferentes tipos de produtos, para assuntos de Compliance; No agronegócio, na sustentabilidade. Até mesmo no próprio mundo das moedas ela tem sofrido alteração de conceito – vide a recente divulgação do Banco Central das “diretrizes para a criação de uma moeda digital”, agora com caráter de moeda mesmo e não de ativo, como as criptos mais conhecidas. 

E por que estamos falando de Blockchain em um texto sobre descentralização? Porque essa é uma das principais características dessas tecnologias e mentalidade. A tomada de decisão não está nas mãos de um agente centralizador. Os blocos de informação que são “aprovados” para entrar na blockchain passam por vários agentes descentralizados na cadeia e, após entrarem para a corrente, não podem mais ser modificados. E são essas as principais características que conferem tanta robustez e confiabilidade nos dados. 

Outra queridinha que vem com tudo com a promessa de mudar a forma como nos relacionamos com o mundo é a Inteligência artificial.

O Google promete que nesse ano deve lançar um diagnóstico médico de dermatologia para os seus usuários. Como vai funcionar? Basta tirar três fotos do problema dermatológico que a inteligência artificial irá buscar as possibilidades de diagnóstico e tratamento em sua nuvem de informações. Parece que as brincadeiras de se consultar com o “Dr. Google” podem se tornar uma realidade por meio do uso de IA.

Isso tira a necessidade de retenção e centralização de conhecimento em uma figura, o médico superespecialista, que nem com várias vidas de estudo poderia analisar tantas informações quanto uma máquina pode. 

Esse é um movimento que descentraliza o conhecimento de uma figura e permite acesso ao serviço por mais pessoas.

E os exemplos de descentralização, tecnologias e mentalidade não pararam por aí. Podemos citar o caso de diversas startups como Uber, Airbnb – que permitem que pessoas comuns ofereçam serviços por meio de plataformas. Podemos falar da grande expansão da educação online, com cursos à gosto do freguês, não precisando se prender a uma instituição de ensino específica; aplicativos para aluguel e compartilhamento de todo tipo de coisa, como móveis e veículos.

E as grandes e mais tradicionais empresas? Parece que também não estão querendo ficar de fora dessa onda da colaboração!

Muita gente já percebeu que os movimentos de inovação são mais ricos e podem dar muito mais certo se acontecerem em um ecossistema que une grandes empresas, startups, universidades. Essa é uma evidência importante de que mesmo o berço da centralização, as indústrias, já notou que pode ser mais eficiente abrindo as portas para um desenvolvimento em conjunto do que se mantendo isolada tentando criar o próximo produto/serviço a ser lançado no mercado.

Com todos esses movimentos das tecnologias e mentalidade, novos modelos de negócio e novas maneiras de se gerar inovação, parece que a atual onda de descentralizar, colaborar e compartilhar não será passageira.