Antifragilidade: do limão, uma caipirinha!

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Ainda quando criança, sem saber o conceito da antifragilidade, sempre ouvia dos mais velhos que existiam duas grandes formas de aprendermos: pelo amor ou pela dor. Aprendemos pelo amor quando buscamos de forma proativa identificar nossas limitações e trabalhar para superá-las. Já o aprendizado pela dor, é quando somos assolados por uma situação de estresse, um desafio repentino que nos causa sofrimento e só a partir desse procuramos sanar nossas limitações.

Esse conhecimento popular nos traz uma boa reflexão para o momento em que estamos vivendo, no qual muitos negócios estão tendo que buscar sua transformação a partir da dor causada pela crise e os impactos da pandemia

O processo de inovação tem uma similaridade com o que diziam os mais velhos: em momentos de crise, de estresse, às vezes de extremo desespero, pela necessidade patente, uma empresa ganha força e encontra a solução para o seu problema. Pela ação, mais do que pelo planejamento impecável – pois normalmente não há muito tempo para isso – a empresa gera valor a partir do novo, da inovação. A energia necessária para inovar vem da reação exacerbada às contrariedades.

A evolução de uma organização a partir de uma crise nos faz lembrar do conceito de “antifrágilidade” criado e apresentado por Nassim Taleb em seu livro de mesmo nome. Nassim observou diversos fenômenos da natureza, sociedade, etc. e na ausência de uma palavra que melhor expressasse o conceito que ele havia observado e que seria o contrário de uma coisa frágil, criou uma nova palavra o conceito de “antifrágil”. 

Como apresentado na figura abaixo, o frágil é qualquer coisa que sob uma pressão externa, uma volatilidade, não resiste e “quebra”. O robusto já consegue resistir por mais tempo à pressão externa mas em algum momento se rompe. O resiliente consegue se adaptar à pressão externa mas quando essa volatilidade deixa de existir, volta ao estado anterior. O antifrágil é ainda melhor: além de apreciar a volatilidade, ele não apenas se adapta às pressões externas mas se transforma, evolui a partir dessa.

“A antifragilidade não se resume à resiliência ou à robustez. O resiliente resiste a impactos e permanece o mesmo; o antifrágil fica melhor. Essa propriedade está por trás de tudo o que vem mudando com o tempo.” Nassim Taleb

Torceremos para que esteja a no mínimo décadas de distância uma nova crise como essa, mas sabemos que essa não é e não será a única crise que viveremos. A grande crise que estamos vivendo – e todas as outras que virão – oferece a todas as organizações do mundo uma oportunidade ímpar: tornarem-se mais antifrágeis. É verdade, as empresas frágeis vão quebrar, as robustas vão resistir por mais tempo, as resilientes vão conseguir se adaptar a esse momento, mas só as antifrágeis irão aproveitar o momento para evoluírem seu negócio e estarem preparadas para as mudanças que viveremos no mundo após a pandemia.

Mas como estruturar a antifragilidade em uma empresa? Existem algumas alavancas que podem ser utilizadas.

  1. Aprecie o risco: sem se permitir sair da da zona de conforto é improvável que um organização esteja diante da oportunidade de novos aprendizados. Apreciar o risco é o ponto de partida para uma organização se tornar antifrágil. No contexto atual o desconforto e o risco são comuns a todas as organizações. O desafio é não se acomodar e apreciar o risco mesmo em períodos de bonança.
  2. Tenha pessoas antifrágeis: empresas que realmente querem se tornar mais antifrágeis precisam antes de mais nada promover uma cultura de crescimento com pessoas que se permitem ao novo, querem evoluir com o desconhecido, gostam de enfrentar novos desafios.
  3. Seja redundante: o padrão de uma “boa” empresa é a eficiência. Fazer mais com menos. No entanto, para se tornar antifrágil uma organização deve ir na contramão dessa máxima e criar redundâncias em pontos de potencial fragilidade na Cia. Por exemplo, muitas empresas dependem exclusivamente do varejo para venderem seus produtos. No momento atual em que os varejistas estão fechado por conta da pandemia, muitos fabricantes estão tendo quedas relevantes nas receitas simplesmente por não terem um canal direto de venda ao seu público-alvo. Empresas que dependem do varejo deveriam criar redundância de canais para evitar problemas como esse.

Postura antifrágil*

Uma grande empresa do setor do Agronegócio estava com sua convenção de vendas agendada para o fim de março e na qual compareceriam cerca de 700 colaboradores. Logo no começo de março a liderança da empresa decidiu que não realizaria a convenção em função das limitações advindas da necessidade do distanciamento social imposto pela pandemia do coronavirus. Poucos dias depois, pensando sobre a oportunidade de estavam perdendo – tanto de realizar um evento importante para a Cia. quanto de aprender uma nova maneira de operar – a liderança reconsiderou a decisão anterior, voltou atrás e decidiu realizar a convenção de forma totalmente virtual.

Segundo relatos da liderança da Cia., além de terem economizado milhões de reais em passagens, hospedagem, infra-estrutura, etc. com a realização do evento de forma presencial, o nível de participação foi melhor do que em eventos presenciais – onde algumas pessoas se sentem acanhadas em pegar o microfone e fazer uma pergunta para a liderança, por exemplo – e os participantes avaliaram de forma muito positiva a convenção.
Nesse exemplo real, vemos o esforço de uma Cia. que enfrentou o risco da convenção não dar certo e que ao final do processo aprendeu e evolui com a oportunidade.

Será que a partir dessa experiência e aprendizados, essa Cia. voltará a fazer apenas convenções de vendas presencial?

*Esse caso foi identificado através de uma entrevista realizada pela Inventta no âmbito de um estudo em construção para entender o impacto da crise nos esforços de inovação das organizações. O estudo será lançado no dia 4.Maio.20 e poderá ser visualizado por aqui.

O grande aprendizado que toda essa reflexão de antifragilidade nos traz para o momento é que não deveríamos nos contentar apenas em passar pela crise, sermos mais resilientes a esse momento. Temos que tirar proveito da crise para evoluirmos e transformarmos nossos negócios para o novo mundo que surge de forma ainda mais acelerada.

“Por que não basta fazer desse limão apenas uma limonada, mas sim uma caipirinha!”

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